A interiorização do turismo religioso no Rio Grande do Norte foi pauta
da audiência pública de iniciativa do deputado estadual Tomba Farias
(PSDB), que aconteceu nesta terça-feira (25), no auditório Cortez
Pereira, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte. Uma das
questões mais abordadas na ocasião, que contou com a participação de
representantes do trade turístico potiguar, além de prefeitos e
secretários de turismo de municípios vocacionados com potencialidade no
turismo religioso, foi o investimento em infraestrutura.
No Rio Grande do Norte, o principal “case” de sucesso do turismo
religioso localiza-se no município de Santa Cruz. É lá que se situa o
santuário de Santa Rita de Cássia, onde foi implantada a maior estátua
religiosa do mundo. No entanto, o estado conta com vários outros
destinos vocacionados para o turismo religioso e que carecem de
investimentos por parte do poder público.
Para o deputado propositor da audiência, Tomba Farias, o turismo
religioso é um turismo que cresce muito no nosso Estado e no Brasil.
“Hoje é um dia que recebemos os prefeitos do Estado, das cidades que tem
o turismo religioso como atividade. A nossa preocupação é acharmos
soluções para que possamos fazer crescer cada vez mais o turismo
religioso”, disse. Para o parlamentar, os municípios com potencial de
turismo religioso, como, por exemplo, São Gonçalo do Amarante, Assú,
Patu, Mossoró, Caicó, Canguaretama, são carentes de apoio governamental.
“Se hoje Santa Cruz desponta entre os principais polos de turismo
religioso do Brasil isso aconteceu porque ousamos e sonhamos. O turismo
religioso deu certo em Santa Cruz, dará certo também em outros
municípios do estado. Entendo que o Estado deve destinar seus olhos para
as cidades de turismo religioso, não apenas para o turismo de sol e
mar, segmento para qual é destinado a maior parte dos recursos
potiguares. Acho que chegou a hora desse cenário mudar, não é favor
nenhum”, explicou.
O coordenador da Câmara Empresarial de Turismo da Fecomércio, George
Alexandre Barreto Costa, atentou para a necessidade de divulgação do
turismo nas regiões próximas às localidades. “Sabemos
que o turismo religioso é uma grande máquina de geração de turistas e de
renda, mas não adianta a gente pensar no turismo religioso sem que o
poder público faça o trabalho de investimento, em promoção e também no
produto, no acesso do visitante ao local turístico. Temos uma
característica muito forte do turismo religioso, é um turismo mais
regional, rodoviário e pelas redondezas. Sabemos que o turismo religioso
do RN já entrou na pauta do Governo, mas é nesse tipo de promoção que a
gente vai precisar focar. Precisamos promover no próprio Estado e nas
cidades vizinhas. É importante a promoção, mas antes de promover em
lugares distantes, podemos promover nas redondezas”, mencionou.
O prefeito de São Gonçalo do Amarante, Paulo Emídio, informou que as
três principais localidades de turismo religioso no Brasil são:
Aparecida do Norte, Círio de Nazaré e Nova Trento. “Os dois primeiros
são conhecidos, mas por que Nova Tentro? Porque eles se organizaram,
fizeram uma interação grande com a igreja em Santa Catarina e hoje é o
terceiro lugar do turismo no Brasil. Nós do RN temos a única cidade do
mundo que tem 27 santos canonizados pelo martírio da fé, então é algo
muito forte que temos em São Gonçalo do Amarante. Se a gente tiver um
apoio maior da igreja católica, se a gente interagir, podemos fazer uma
movimentação católica muito grande na região metropolitana, mas nós
temos que arrumar a casa para não queimar o filme. Se for mais divulgado
dentro da paróquia, só no entorno, já vamos fazer essa movimentação
grande. Estamos no mesmo barco, o que queremos é um fluxo turístico que
gere renda e fé”, falou.
A secretária de Turismo do Estado do Rio Grande do Norte, Ana Maria
Costa, também falou da importância do turismo religioso no Brasil.
“Apenas no feriadão da Semana Santa, o segmento do turismo religioso
movimentou 2,7 bilhões de reais no Brasil. O RN possui vários atrativos
e potenciais para turismo religioso. Nós montamos um roteiro do
circuito da fé, de 7 dias, que abrange 11 municípios. Mas realmente
existe uma grande questão em relação a interiorização do turismo, a
infraestrutura. Infelizmente, no RN são poucos os municípios que têm
vocação para o turismo religioso e que possui o mínimo de estrutura. O
Estado tem 5 polos turísticos que contemplam 75 municípios. Cada polo,
mesmo que indiretamente, está ligado ao turismo religioso. A gente tem
que entender também que os municípios e a população têm que se envolver
nesse processo. Não adianta a secretária de turismo querer fazer esse
movimento se toda a população não tiver envolvida, a igreja não tiver
envolvida. As vezes o município não tem nem uma pousada para hospedar o
turista que chega. Precisamos o mínimo de infraestrutura para atrai os
turistas para esses municípios”, indicou.
Já o prefeito da cidade de Patu, Rivelino Câmara, respondeu às falas que
antecederam reiterando a cobrança ao poder público de infraestrutura
para viabilizar o turismo no interior. “O Santuário do Lima é um
santuário construído em cima das serras e que vem se desenvolvendo com
grandes dificuldades pela falta de estrutura. Não há como um empresário
investir numa cidade sem infraestrutura e quem dá a infraestrutura é o
poder público. Mas, em uma cidade com cerca de 13 mil habitantes, o
município sozinho não tem condições de, em cima da serra, pavimentar,
drenar e dar a estrutura para que o empresário vá lá construir sua
pousada”, explicou.
O arcebispo de Natal, Dom Jaime Vieira, também deu a contribuição dele ao debate. “De
tudo o que eu escutei, vejo que o turismo religioso tem sido um viés
econômico de incentivo a emprego, renda, desenvolvimento urbano,
regional e isso é muito importante. A infraestrutura básica é
importante, certamente os municípios e as paróquias não têm condições
sozinhas de arcar com isso. Mas também é muito importante que nós
possamos dar toda a assistência para que as pessoas, em qualquer hora
que possam visitar aquele local, sejam devidamente recepcionadas”,
disse.
Para a analista de Políticas Públicas do Sebrae/RN, Cátia Lopes, temos
muitos desafios a superar. “A gente tem uma preocupação muito grande de
não cair no ciclo da decadência. Não há hospedagem porque não há fluxo. O
fluxo não vai porque não tem investimento. Alguém tem que dar o
primeiro passo e romper essa inércia. Precisamos fazer um turismo
inteligente. A fé é indutora e a participação da igreja é
importantíssima, mas vejo que temos muito trabalho para fazer e temos
que sentar e pensar quais são os atrativos que temos, porque esse é um
desenvolvimento territorial, não apenas de cada município. Esse conjunto
é que forma o grande roteiro para que você faça com que a pessoa saia
de casa motivada pela sua fé, mas possa experimentar outras coisas além
dessa fé. Num raio de 80 km temos condições de movimentar esse turismo e
o grande vendedor desse turismo é a igreja, por isso precisamos nos
unir a ela”.
De acordo com o secretário Extraordinário para Gestão de Projetos e
Metas de Governo do Rio Grande do Norte, Fernando Mineiro, a orientação
da governadora é pela busca de construir um termo de cooperação com os
municípios para viabilizar as estradas. “Estamos trabalhando para
disponibilizar 30% do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste
(FNE) que hoje é aplicado no setor privado para que possa ser aplicado
em infraestrutura. Na visão do governo, nós vamos investir
prioritariamente na questão das estradas. A prioridade absoluta é
atualizar a conta dos servidores, que nós temos um passivo, claro, mas
ao mesmo tempo criando condições para plano de investimento que tem como
foco a questão das estradas”, indicou.
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