DECRETO DO PAPA EXIGE QUE PADRES DENUNCIEM CASOS DE ABUSO SEXUAL

O
decreto papal “Vos estis lux mundi” (Vós sois a luz do mundo) é divulgado em um
momento em que a igreja é alvo de diversas denúncias de crimes sexuais, desde
pedofilia até abuso contra freiras (leia mais ao final da reportagem).
Em
março, o papa já tinha publicado uma lei sobre a prevenção e o combate à violência sexual contra
menores e pessoas vulneráveis, mas não falava sobre a investigação interna dos
casos.
O que diz o decreto
do Papa
- · Religiosos podem ser responsabilizados por acobertar casos de abuso
- · Dioceses têm um ano para criar sistemas simples e acessíveis de notificação de denúncias
- · Denúncia pode ser enviada para arcebispo metropolitano ou diretamente para a Santa Sé, dependendo do caso
- · Dioceses devem incentivar igrejas a envolver especialistas de fora da Igreja nas investigações
- · Vítimas devem receber assistência espiritual e Igreja deve fornecer assistência médica, terapêutica e psicológica
- · Investigações devem garantir a confidencialidade dos envolvidos e durar até 90 dias.
- O papa orienta ainda que os religiosos acolham, escutem e acompanhem vítimas e suas famílias. O pontífice, porém, mantém a inviolabilidade do sigilo da confissão. Assim, exclui que as denúncias sejam feitas a partir de relatos de fiéis feitos em confessionário.
Quando
as suspeitas estiverem relacionadas a religiosos em alta posição hierárquica,
como cardeais, patriarcas e bispos, a notificação pode ser enviada a um
arcebispo metropolitano ou diretamente para a Santa Sé caso necessário.
Essa
carta emitida diretamente pelo papa modifica a legislação interna da Igreja (o
direito canônico), mas não modifica as sanções já previstas. Até então, os
clérigos e religiosos denunciavam os casos de violência de acordo com sua
consciência pessoal.
O papa ressalta que os "crimes de abuso sexual ofendem
Nosso Senhor, causam danos físicos, psicológicos e espirituais às vítimas e
lesam a comunidade dos fiéis".
Em um momento em que a igreja enfrenta escândalos de violência
sexual em vários países, o papa afirma que “deve-se continuar a aprender das
lições amargas do passado a fim de olhar com esperança para o futuro”.
A
responsabilidade de lutar contra os crimes sexuais recai, em primeiro lugar,
segundo o pontífice, “sobre os sucessores dos apóstolos, colocados por Deus no
governo pastoral do seu povo”. De acordo com a Associated Press, a igreja
católica conta com 415 mil padres e 660 mil religiosas em todo mundo.
O que é considerado
abuso?
A carta considera delito sujeito à investigação denúncias que
indiquem que algum religioso:
- forçou alguém, com violência, ameaça ou abuso de autoridade, a realizar ou sofrer atos sexuais;
- teve atos sexuais com um menor de idade ou com uma pessoa vulnerável;
- produziu, exibiu, portou ou distribuiu material pornográfico infantil, bem como atuou no recrutamento ou indução de um menor ou pessoa vulnerável a participar em exibições pornográficas.
·
Escândalos sexuais
A Igreja Católica, que tem 1,3 bilhão de seguidores em todo o
mundo, passou por sucessivos escândalos envolvendo abusos nos últimos anos. O
Papa Francisco enfrenta divisões agudas em Roma sobre como lidar com as
consequências do problema que corrói a autoridade da Igreja e abala sua credibilidade.
Casos
de pedofilia vieram à tona em diversos países, como Austrália, Estados Unidos e Chile, onde 34 bispos acusados de acobertar crimes sexuais colocaram seus
cargos à disposição do Vaticano. No início deste ano, o Papa
Francisco admitiu que padres e bispos abusaram de freiras. Vários
religiosos foram afastados de seus cargos.
Desde
o início dos anos 2000, o Vaticano vem tomando medidas para evitar esses casos.
Ainda no papado de João Paulo II, foi declarada tolerância zero aos casos de
pedofilia, e as denúncias foram estimuladas. O Papa Bento XVI passou a
selecionar com mais rigor a entrada dos jovens padres à igreja e afastou muitos
religiosos.
Já
o Papa Francisco foi o primeiro pontífice a ver a questão como abuso de poder,
embora tenha se envolvido em uma polêmica ao defender um bispo chileno -
posteriormente, ele reconheceu que cometeu "graves erros de avaliação" sobre o
caso.
Em
março, o papa publicou a lei sobre a prevenção e o combate à violência sexual
contra pessoas vulneráveis, que se aplicam aos funcionários da Cúria e do
Vaticano e ao corpo diplomático.
DECRETO DO PAPA EXIGE QUE PADRES DENUNCIEM CASOS DE ABUSO SEXUAL
Reviewed by Erivan Justino
on
quinta-feira, maio 09, 2019
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