UM DESABAFO PELA HISTÓRIA E CULTURA SANTACRUZENSES

Por Marcos Cavalcanti

Hoje acordei cedo, carreguei as baterias de minha câmera fotográfica e me dirigi à Igreja Matriz com o objetivo de filmar a suposta missa de Ação de Graças em homenagem aos 137 anos de Emancipação Política de Santa Cruz, evento que há três anos, nesta data, vinha se repetindo regularmente em nossa cidade como parte dos festejos da nossa Emancipação. Qual não é a minha surpresa, no horário divulgado, a igreja estava quase que completamente vazia, como vocês podem perceber na foto abaixo. Na igreja, cumprimentei a professora Cremilda e depois perguntei a uma freira que estava sentada, se a missa tinha sido desmarcada. Com algum espanto, ela respondeu-me indagando: que missa? Agradeci a sua atenção e saí. 

A missa tinha sido divulgada dias atrás na Rádio Santa Cruz, no programa Conexão Trairi, pelo próprio Diretor de Cultura, Edgar Santos, que foi entrevistado juntamente comigo para falarmos sobre o tema da Emancipação Política de Santa Cruz (11-12-1876) e de sua elevação à categoria de cidade (30-11-1914). 
Entristecido e decepcionado, na primeira oportunidade busquei as explicações do Diretor, que como todos sabem é também autor de um livro sobre a história de Santa Cruz. Com a cortesia amigável de sempre me fez entrar em seu gabinete e perguntou-me: tudo bem Marcos? Guardei a tristeza bem dentro de meu coração e soltei o verbo da decepção e dos lamentos. Edgar pediu-me desculpas por não ter me avisado e disse que tinha feito o que podia, mas que haviam tomado a decisão de cancelar a programação divulgada.

É assim em nossa amada cidade, dá-se um passo para frente e dois para trás, senão, vejamos: finalmente o Hino Oficial de Santa Cruz foi escolhido numa bela noite. Passo para frente. A cidade que já vinha comemorando corretamente as suas duas datas cívicas principais, sempre com uma extensa programação cultural, social e esportiva, simplesmente nada comemorou este ano. Dois passos para trás. Nenhum panfleto, nenhuma faixa dando-lhe os parabéns, nenhum bolo, nenhum traque, quanto mais um foguetão na terra dos foguetões, nenhum carro de som, nenhuma atração musical, e por fim, para aqueles que são religiosos, nenhuma missa em ação de graças. Graças a quem?

Com algum atraso, parte da iluminação natalina do ano passado foi instalada. Um passo para frente. No entanto, até agora, nenhum incremento como marca própria da criatividade desta administração. Passo Doble para trás. Quem sabe no próximo ano? A ladainha é essa e a coisa andando para trás. Foi assim com o nosso carnaval. Foi assim com o tradicional festival de quadrilha da Capital do Trairi que ficou a ver navios em relação a algumas de nossas cidades-irmãs. 

Continuemos que o lamento é longo. 


Com muito esforço dos artistas tivemos a aprovação de Leis de Organização e Incentivos à Cultura. Passo para frente. A prefeitura não implementou até agora o Fundo Municipal de Cultura e ainda questionou na justiça a sua constitucionalidade. Dos pacitos para trás. A Justiça reconheceu a legitimidade da lei. Conquistamos uma Secretária de Cultura. Passo para frente. O Secretário foi rebaixado para condição de Diretor Cultural. Dois passinhos para trás. Com muito esforço, sobretudo do maestro Camilo Henrique, realizou-se em 2012 mais uma edição do belíssimo Festival de Bandas Felinto Lúcio, inclusive com a participação de integrantes da Banda de Música Municipal se apresentando. Passo esperançoso para frente. Em 2013 a Banda de Música foi extinta, o maestro dispensado e o nosso festival, que é um dos nossos maiores orgulhos culturais, não contou nem com a presença daquela que por dever de ofício deveria estar na primeira fila para anunciar que “neste não”, mas no próximo ano “habemos Banda”. Dois passos para trás. A apresentação do Auto de Santa Rita que deveria ter dado mais um salto de qualidade para frente, terminou de forma melancólica e dando passos para trás. A Casa de Cultura Popular que nos últimos anos vinha dando mostras de vitalidade, com o dinamismo e o idealismo de Débora, apesar de todas as dificuldades da falta de recurso no âmbito estadual e municipal, um mal histórico, parece estar dando passos para trás na atualidade, muito provavelmente pela dificuldade de conciliação de tantas responsabilidades. Sítio Novo, passos para frente. Santa Cruz, passos para trás. O Dia da Terra de Santa Cruz, tradicionalmente promovido pelo IFRN e que desde a sua criação vinha homenageando um artista de nossa terra com a comenda Mestre Antônio da Ladeira. Passo para frente. Esse ano não aconteceu. Bailando para trás. 

Em fevereiro de 2013 ajudamos a fundar a ASFOT para desenvolver o gosto pela fotografia e a preservação de nossa história imagética. Passo para frente. O grupo não consegue, apesar dos esforços, se reunir nem se consolidar. Passos para trás. Vimos o nascimento do Café com Poesia. Passo para frente. Sua morte prematura e passos para trás. 
Na mensagem de governo no início do ano, espaço especial e exclusivo para se propalar a meta de criação do Museu da Cidade. Passo para frente. Nada de concreto realizado até agora. Nesse caso, nem passo para frente nem para trás. A Vila de Todos, criada também para abrigar a Vila do Artesão Lúcio Lustosa, e passo para frente, já passou por vários governos e continua sem cumprir a sua finalidade, e passos para trás. 

Mas nem tudo são passos de caranguejo na terra de Santa Cruz e se você tem fôlego de leitura, é digno de nota e de louvores a formação e consolidação do Trio Arapuá; a criação do Parque da Borborema, que incrementa ainda mais este grande equipamento cultural do nosso município, que é o Museu Auta Pinheiro Bezerra; a publicação do livro “Gemellaggio, Due Cittá, Una Sola Fede”, do conterrâneo Adriano Nóbrega e da italiana Marta Ferraro, levando o nome de nossa cidade para a terra que é berço do Renascimento; a criação do sarau lírico-musical do IFRN; a criação do Fashion Days por Isaac Ramon; a realização dos Tributos a Raul Seixas e ao Legião Urbana; mais uma audição da escola de música do incansável Josildo; a realização do Rock in Rua, idealizado pelo performático Ranieri; as exibições de filmes do grande Buca Dantas; as apresentações do grupo teatral Acoberta e do inoxidável Arte Viva disseminadores de uma Viva Arte na região do Trairi; a poesia do espetáculo do Dell’art Circense; a belíssima apresentação da peça musical Peter Pan, desta guerreira da dança em nossa cidade, Rosimar; a consolidação do coral do estadual e o bom trabalho do maestro Crisanto, inclusive com o Coral de Língua de Sinais; o trabalho de documentação fílmico de vários eventos feito por Nilson Rocha e o registro fotográfico de Josemar Lexfoto. Palmas ainda para o documentário De quem é a culpa? Enfim, muito deve ter me escapado de tantas iniciativas legais de abnegados da arte e da cultura que fazem um grande esforço para que Santa Cruz continue ostentando com orgulho o título de Cidade de Todas as Artes. E para que não se diga que tenho alguma marcação com a prefeitura, eis alguns destaques importantes: o mais bela voz estudantil e concurso da canção para Santa Rita; a continuação do Motofest; a criação do Festfrango e a excelente programação do Dia da Criança. Cinco passos para frente e marche! 

Avante Santa Cruz! Passos para frente queridos artistas e impulsionemos à força de nossa luta, de nossa ação, de nossa inteligência criativa, os passos e espaços dos “paços” oficiais.

Marcos Cavalcanti
UM DESABAFO PELA HISTÓRIA E CULTURA SANTACRUZENSES

            Hoje acordei cedo, carreguei as baterias de minha câmera fotográfica e me dirigi à Igreja Matriz com o objetivo de filmar a suposta missa de Ação de Graças em homenagem aos 137 anos de Emancipação Política de Santa Cruz, evento que há três anos, nesta data, vinha se repetindo regularmente em nossa cidade como parte dos festejos da nossa Emancipação. Qual não é a minha surpresa, no horário divulgado, a igreja estava quase que completamente vazia, como vocês podem perceber na foto abaixo. Na igreja, cumprimentei a professora Cremilda e depois perguntei a uma freira que estava sentada, se a missa tinha sido desmarcada. Com algum espanto, ela respondeu-me indagando: que missa? Agradeci a sua atenção e saí. 

             A missa tinha sido divulgada dias atrás na Rádio Santa Cruz, no programa Conexão Trairi, pelo próprio Diretor de Cultura, Edgar Santos, que foi entrevistado juntamente comigo para falarmos sobre o tema da Emancipação Política de Santa Cruz (11-12-1876) e de sua elevação à categoria de cidade (30-11-1914). 
Entristecido e decepcionado, na primeira oportunidade busquei as explicações do Diretor, que como todos sabem é também autor de um livro sobre a história de Santa Cruz. Com a cortesia amigável de sempre me fez entrar em seu gabinete e perguntou-me: tudo bem Marcos? Guardei a tristeza bem dentro de meu coração e soltei o verbo da decepção e dos lamentos. Edgar pediu-me desculpas por não ter me avisado e disse que tinha feito o que podia, mas que haviam tomado a decisão de cancelar a programação divulgada.

            É assim em nossa amada cidade, dá-se um passo para frente e dois para trás, senão, vejamos: finalmente o Hino Oficial de Santa Cruz foi escolhido numa bela noite. Passo para frente. A cidade que já vinha comemorando corretamente as suas duas datas cívicas principais, sempre com uma extensa programação cultural, social e esportiva, simplesmente nada comemorou este ano. Dois passos para trás. Nenhum panfleto, nenhuma faixa dando-lhe os parabéns, nenhum bolo, nenhum traque, quanto mais um foguetão na terra dos foguetões, nenhum carro de som, nenhuma atração musical, e por fim, para aqueles que são religiosos, nenhuma missa em ação de graças. Graças a quem?

            Com algum atraso, parte da iluminação natalina do ano passado foi instalada. Um passo para frente. No entanto, até agora, nenhum incremento como marca própria da criatividade desta administração. Passo Doble para trás. Quem sabe no próximo ano? A ladainha é essa e a coisa andando para trás. Foi assim com o nosso carnaval. Foi assim com o  tradicional festival de quadrilha da Capital do Trairi que ficou a ver navios em relação a algumas de nossas cidades-irmãs.  
         
             Continuemos que o lamento é longo. Com muito esforço dos artistas tivemos a aprovação de Leis de Organização e Incentivos à Cultura. Passo para frente. A prefeitura não implementou até agora o Fundo Municipal de Cultura e ainda questionou na justiça a sua constitucionalidade. Dos pacitos para trás. A Justiça reconheceu a legitimidade da lei. Conquistamos uma Secretária de Cultura. Passo para frente. O Secretário foi rebaixado para condição de Diretor Cultural. Dois passinhos para trás. Com muito esforço, sobretudo do maestro Camilo Henrique, realizou-se em 2012 mais uma edição do belíssimo Festival de Bandas Felinto Lúcio, inclusive com a participação de integrantes da Banda de Música Municipal se apresentando. Passo esperançoso para frente. Em 2013 a Banda de Música foi extinta, o maestro dispensado e o nosso festival, que é um dos nossos maiores orgulhos culturais, não contou nem com a presença daquela que por dever de ofício deveria estar na primeira fila para anunciar que “neste não”, mas no próximo ano “habemos Banda”. Dois passos para trás. A apresentação do Auto de Santa Rita que deveria ter dado mais um salto de qualidade para frente, terminou de forma melancólica e dando passos para trás. A Casa de Cultura Popular que nos últimos anos vinha dando mostras de vitalidade, com o dinamismo e o idealismo de Débora, apesar de todas as dificuldades da falta de recurso no âmbito estadual e municipal, um mal histórico, parece estar dando passos para trás na atualidade, muito provavelmente pela dificuldade de conciliação de tantas responsabilidades. Sítio Novo, passos para frente. Santa Cruz, passos para trás. O Dia da Terra de Santa Cruz, tradicionalmente promovido pelo IFRN e que desde a sua criação vinha homenageando um artista de nossa terra com a comenda Mestre Antônio da Ladeira. Passo para frente. Esse ano não aconteceu. Bailando para trás.  
 
                Em fevereiro de 2013 ajudamos a fundar a ASFOT para desenvolver o gosto pela fotografia e a preservação de nossa história imagética. Passo para frente. O grupo não consegue, apesar dos esforços, se reunir nem se consolidar. Passos para trás. Vimos o nascimento do Café com Poesia. Passo para frente. Sua morte prematura e passos para trás. 
Na mensagem de governo no início do ano, espaço especial e exclusivo para se propalar a meta de criação do Museu da Cidade. Passo para frente. Nada de concreto realizado até agora. Nesse caso, nem  passo para frente nem para trás.  A Vila de Todos, criada também para abrigar a Vila do Artesão Lúcio Lustosa, e passo para frente, já passou por vários governos e continua sem cumprir a sua finalidade, e passos para trás. 

              Mas nem tudo são passos de caranguejo na terra de Santa Cruz e se você tem fôlego de leitura, é digno de nota e de louvores a formação e consolidação do Trio Arapuá; a criação do Parque da Borborema, que incrementa ainda mais este grande equipamento cultural do nosso município, que é o Museu Auta Pinheiro Bezerra; a publicação do livro “Gemellaggio, Due Cittá, Una Sola Fede”, do conterrâneo Adriano Nóbrega e da italiana Marta Ferraro, levando o nome de nossa cidade para a terra que é berço do Renascimento; a criação do sarau lírico-musical do IFRN; a criação do Fashion Days por Isaac Ramon; a realização dos Tributos a Raul Seixas e ao Legião Urbana; mais uma  audição da escola de música do incansável Josildo; a realização do Rock in Rua, idealizado pelo performático Ranieri; as exibições de filmes do grande Buca Dantas; as apresentações do grupo teatral Acoberta e do inoxidável Arte Viva disseminadores de uma Viva Arte na região do Trairi; a poesia do espetáculo do Dell’art Circense; a belíssima apresentação da peça musical Peter Pan, desta guerreira da dança em nossa cidade, Rosimar; a consolidação do coral do estadual e o bom trabalho do maestro Crisanto, inclusive com o Coral de Língua de  Sinais; o trabalho de documentação fílmico de vários eventos feito por Nilson Rocha e o registro fotográfico de Josemar Lexfoto. Palmas ainda para o documentário De quem é a culpa? Enfim, muito deve ter me escapado de tantas iniciativas legais de abnegados da arte e da cultura que fazem um grande esforço para que Santa Cruz continue ostentando com orgulho o título de Cidade de Todas as Artes. E para que não se diga que tenho alguma marcação com a prefeitura, eis alguns destaques importantes: o mais bela voz estudantil e concurso da canção para Santa Rita; a continuação do Motofest; a criação do Festfrango e a excelente programação do Dia da Criança. Cinco passos para frente e marche! 

                Avante Santa Cruz! Passos para frente queridos artistas e impulsionemos à força de nossa luta, de nossa ação, de nossa inteligência criativa, os passos e espaços dos “paços” oficiais.

				                                 Marcos Cavalcanti

UM DESABAFO PELA HISTÓRIA E CULTURA SANTACRUZENSES UM DESABAFO PELA HISTÓRIA E CULTURA SANTACRUZENSES Reviewed by Erivan Justino on quinta-feira, dezembro 12, 2013 Rating: 5

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