MPF INGRESSA COM AÇÃO DE IMPROBIDADE CONTRA PREFEITO DE PENDÊNCIAS
Ivan
Padilha comprou combustíveis por preço acima do valor de mercado e
em quantidades irreais, que permitiriam cada veículo “encher o
tanque” 454 vezes no ano
O
Ministério Público Federal (MPF) em Assu ingressou com uma ação
de improbidade administrativa contra o prefeito de Pendências, Ivan
de Souza Padilha. O gestor é acusado de contratar por três vezes -
uma delas sem licitação - empresa para fornecimento de combustíveis
(gasolina, óleo diesel e lubrificantes) para os veículos do
Município, em 2012 e 2013, com preços acima do mercado e em
quantidades muito superiores às necessárias.
Ao todo,
o prejuízo aos cofres públicos foi calculado em R$ 476.381,02,
levando-se em conta apenas a diferença entre os valores pagos e o
preço médio dos combustíveis no estado. Porém, além do
sobrepreço, as investigações apontaram que a quantidade adquirida
era muito superior à demanda, pois dividida pelos “carros de
passeio” da frota municipal representaria mais de 22 mil litros por
ano, para cada um.
O
procurador da República Victor Queiroga é autor da ação que
revela, além do sobrepreço e da compra de quantidades acima das
necessárias, a utilização indevida de recursos do Programa
Nacional de Apoio ao Transporte Escolar - Pnate, que deveriam ser
investidos exclusivamente no transporte de estudantes e não para
abastecer toda frota da prefeitura.
Sobrepreço
- No Pregão n.º 02, de 2012, o prefeito adotou pregão presencial,
quando deveria adotar a modalidade eletrônica (que facilitaria uma
maior concorrência) e promoveu pesquisa mercadológica com apenas
dois fornecedores, problemas que se repetiram no Pregão 01, de 2013
e na Dispensa 02, também de 2013. Nas três ocasiões, o volume de
combustíveis contratado estava muito acima da demanda e o preço
superior ao do mercado.
Em 2012
foi selecionado o Posto Frei Damião Ltda., ofertando gasolina a R$
2,87, quando a média praticada era de R$ 2,69, de acordo com a
Agência Nacional do Petróleo (ANP). A diferença no álcool era
ainda maior (R$ 2,45 a R$ 2,20) e o sobrepreço se repetia no diesel
(R$ 2,08 a R$ 2,00). Foram adquiridos 542 mil litros de gasolina, 276
mil de álcool e 498 mil de diesel, totalizando R$ 3.267.580. Pelo
preço médio, a mesma quantidade teria saído R$ 206 mil mais
barato.
No pregão
de 2013, o mesmo posto saiu vencedor dos lotes referentes a
combustíveis, novamente com preços acima da média. Foram 651 mil
litros de gasolina, 304 mil de álcool e 648 mil de diesel, por R$
4.268.350. O sobrepreço foi de R$ 256 mil. No mesmo pregão, houve
ainda um lote que envolvia a compra de gás de cozinha. A empresa
vencedora (Marcelo M. da Silva – ME) repassou 2.035 botijões de 13
kg a R$ 41,27, perfazendo o valor total de R$ 83.984,45.
Nesse
caso, o prejuízo ao poder público, levando em conta o valor médio
do botijão no Rio Grande do Norte à época, foi de R$ 3.785. Isso
sem considerar que em muitos municípios do interior do estado (como
Caicó, Currais Novos, Mossoró, Parnamirim e São José de Mipibu) o
preço médio era ainda menor, 10,64% abaixo do valor licitado.
Enquanto
promovia esse pregão, Ivan Padilha dispensou licitação para
contratar o fornecimento de combustível, lubrificante, graxas em
geral e outros, pelo período de um mês. O procedimento poderia ter
sido evitado se houvesse o devido planejamento, porém o MPF aponta
que o prefeito optou por “fabricar uma emergência” para permitir
a dispensa de licitação. Das duas únicas propostas apresentadas, a
do Posto Frei Damião Ltda foi a vencedora e também trouxe preços
acima da média do mercado, gerando prejuízo de R$ 9.285,92.
Quantidades
- Em 2012 foram licitados 1.316.000 litros de combustíveis. Já em
2013 foram 1.603.000, um acréscimo de 21,81%. A frota da prefeitura
era composta de 82 veículos, dos quais 31 aparentemente poderiam
utilizar o óleo diesel e os 51 restantes álcool ou gasolina, sendo
nove desses motos. Desconsiderando as motos, com consumo muito abaixo
dos demais, restariam 22.738 litros de álcool ou gasolina por cada
“veículo de passeio”.
Tomando
como média 50 litros por tanque, cada veículo teria de abastecer
454 vezes ao ano, ou seja, todos os 365 dias e em alguns até mais de
uma vez. Isso sem levar em conta os feriados e os finais de semana e
o fato de Pendências possuir um território de aproximadamente 20km
de largura por 20km de comprimento.
Na ação,
que tramitará na Justiça Federal sob o número
0800509-68.2016.4.05.8403, o MPF requer a condenação de Ivan
Padilha por atos de improbidade que causam prejuízo ao erário e
atentam contra os princípios da administração pública, cujas
sanções incluem ressarcimento do dano, perda da função pública,
suspensão dos direitos políticos, pagamento de multa e proibição
de contratar com o poder público.
MPF INGRESSA COM AÇÃO DE IMPROBIDADE CONTRA PREFEITO DE PENDÊNCIAS
Reviewed by Erivan Justino
on
sexta-feira, outubro 21, 2016
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