EFEITO TRUMP: OS PRODUTOS QUE PODEM FICAR MAIS BARATOS NO BRASIL COM O TARIFAÇO

Às vésperas do tarifaço, cresce a expectativa de que parte da produção brasileira que geralmente é vendida para os Estados Unidos acabe redirecionada para o mercado interno, aumentando a oferta de alimentos e insumos e abrindo espaço, ao menos em tese, para a queda nos preços de alguns itens no Brasil. Especialistas, porém, afirmam que esse efeito será pontual e limitado e não compensa os efeitos negativos do tarifaço sobre a economia. Por ora, o governo brasileiro tenta negociar e tem pronto um plano para mitigar o impacto em setores mais atingidos, segundo disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nesta segunda-feira.

Jason Vieira, economista da Lev, analisa que o impacto deve ser perceptível apenas em alguns setores e por pouco tempo. “Alguns perecíveis e também a carne podem ficar mais baratos em curto prazo por causa do tarifaço. No médio prazo não tem como calcular com exatidão, mas esses são os impactos que temos agora”, diz. Uma das estratégias do governo é tentar remover justamente os alimentos do tarifaço.

Carne, pescados, café e frutas

O caso mais citado pelos especialistas de alívio nos preços no mercado brasileiro é o da carne bovina. “A carne deve sentir primeiro. Menos exportação significa mais carne no Brasil, o que pode aliviar os preços de cortes populares nas próximas semanas”, afirma Gustavo Moreira, planejador financeiro. A inflação da carne em 12 meses até maio chegou a 23,48%. Nas duas primeiras semanas de julho, os preços das carnes recuaram 0,36%, no geral. Segundo o IPCA-15, divulgado na semana passada, o Filé mignon teve queda de -1,63%, o contrafilé teve redução de -1,31% e o preço da Alcatra caiu 1,21%.

Situação semelhante ocorre com o café, especialmente o tipo arábica, fortemente exportado aos EUA. “Ainda não ficou mais barato por conta do tarifaço, mas existe essa expectativa para os próximos meses”, diz Moreira. Segundo o IBGE, o café ficou de 80% mais em 12 meses. Nos primeiros 15 de julho, a queda no preço do café moído foi de 0,35% conforme dados oficiais. Os preços dos pescados recuaram mais: 2,03%. O destaque fica por conta do preço do salmão que caiu 2,36% nos primeiros 15 dias de julho. O preço do camarão caiu 1,80%.

O suco de laranja é outro produto afetado pelo tarifaço. O Brasil é o maior exportador global, e a sobretaxa americana tende a reduzir o volume enviado aos EUA. Com isso, parte da produção pode ser absorvida internamente. O preço da laranja-pera caiu mais de 9% nas duas primeiras semanas de julho. O mercado de frutas em geral, produtos que são perecíveis, sente os efeitos do tarifaço.

Mesmo que a oferta cresça momentaneamente, a redução no fluxo de exportações tende a pressionar o câmbio. “Menos dólares entrando significa dólar mais caro, o que encarece insumos, combustíveis, produtos importados e até itens básicos”, afirma Jackson Campos, especialista em comércio exterior. Segundo ele, a desvalorização cambial pode anular os ganhos momentâneos para o consumidor, além de gerar pressão inflacionária mais à frente.

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