MASTER E BRB FIZERAM NEGÓCIO DE R$ 303 MILHÕES COM EMPRESA DE ATENDENTE DE LANCHONETE INVESTIGADA POR GOLPE
O banco Master vendeu ao BRB uma carteira de crédito (direitos sobre empréstimos) de R$ 303 milhões gerada por uma empresa registrada em nome de uma atendente de lanchonete investigada por aplicar um golpe de maquininha de cartão. Essa transação, segundo o Ministério Público Federal (MPF), possui “indícios graves de fraude” e reforça a suspeita de ausência de auditoria nas operações realizadas entre as duas instituições financeiras.
Procurado, o Master não comenta. Em nota, o BRB diz que não comenta caso específico em função do sigilo bancário e que “as suas operações seguem prática de mercado e possuem conformidade com os procedimentos internos e normativos aplicáveis passando pelas instâncias de governança competentes dentro da instituição”.
'contato@contato.com'
Documentos obtidos pelo GLOBO mostram que, em dezembro de 2024, o Master vendeu ao BRB carteiras de crédito adquiridas da The Pay Soluções de Pagamentos Ltda — que registrou na Receita Federal os contatos “contato@contato.com” e (11) 1111-1111, não possui funcionários e não atua com atividades financeiras.
Parecer do MPF aponta que empresa é de fachada — Foto: Reprodução
Salário de R$ 1.486
Além disso, a firma, que tem capital social de R$ 450.000,00, é administrada por uma atendente de lanchonete cujo salário é de R$ 1.486,00 e que está sendo investigada pela Polícia Civil por ter usado uma maquininha de cartão com um nome semelhante à da empresa em que trabalhava anteriormente para desviar pagamentos de clientes.
Essa operação chamou a atenção do Banco Central, que passou a olhar com lupa todas as carteiras de crédito vendidas pelo Master ao BRB. Em meio ao aperto da fiscalização da autoridade monetária, o banco controlado por Daniel Vorcaro comunicou que, dois meses depois de fazer negócio com a instituição do Distrito Federal, em fevereiro de 2025, decidiu recomprar as carteiras de crédito da The Pay Soluções de Pagamentos Ltda. Segundo o BC, após essa transação, “não foram realizados novos exames” no negócio.
Mas o caso entrou na mira da Polícia Federal e do MPF, que tomaram conhecimento da operação após questionar o BC sobre outras operações suspeitas realizadas entre o Master e o BRB.
“Além das fraudes realizadas em 2025, para desviar recursos do BRB, no total de R$ 12,2 bilhões, a pequena amostra analisada pelo Banco Central de 2024, apenas de dezembro, mostra que fraude semelhante vinha sendo realizada no ano anterior, em prejuízo do banco público de Brasília”, afirmou o MPF em uma manifestação durante as investigações. “É possível que estejamos diante de uma das maiores fraudes bancárias da história do Brasil, pelo volume de recursos desviados ilicitamente”, complementou.
A investigação
A operação envolvendo carteiras de crédito entre o Master e o BRB foi além de 2024 — e, mesmo sob fiscalização do BC, continuaram em 2025. As transações realizadas neste ano, segundo os investigadores, apresentam indícios de fraudes e foram feitas numa manobra para socorrer o banco privado, que necessitava de um fôlego financeiro para sobreviver no mercado.
MPF aponta indícios de fraudes no Master — Foto: Reprodução
Em sua manifestação sobre o caso, o MPF afirmou que o Master “teria adquirido carteiras de crédito” neste ano de uma empresa dirigida por um ex-funcionário do banco “sem realizar qualquer pagamento” e, logo em seguida, revendeu esses títulos ao BRB, recebendo pagamento imediato, “resultando na transferência, de janeiro a maio de 2025, de R$ 12,2 bilhões”.
Ao justificar essa operação ao BC, o Master informou em 25 de março deste ano que a carteira de crédito tinha como origem duas associações de servidores do estado da Bahia, que teriam sido criadas por um diretor do banco privado.
Uma auditoria do BC, porém, constatou que “as cessões de crédito passaram a envolver CPFs de diversas localidades do país” e que as movimentações financeiras eram incompatíveis com as duas associações envolvidas na transação.
Diante dessa suspeita, o Banco Central passou a fazer um pente-fino numa amostra de 30 supostos clientes tomadores de créditos das operações cedidas pelo Master ao BRB em janeiro de 2025. A instituição constatou que não foi possível estabelecer qualquer correspondência das transações com o fluxo financeiro, o que “corrobora os indícios de insubsistência”. O termo significa inconsistência ou falta de fundamento que comprove a existência de algo.
A partir disso, o BRB apresentou ao BC uma nova amostra com informações de 100 contratos de créditos adquiridos do Master. Ao analisar os documentos, a autoridade monetária reforçou que havia “indícios de insubsistência, que sinalizam a existência de possível engenharia contável e financeira para viabilizar a captação de recursos”.
Após o questionamento do BC, a titularidade desses títulos passou a ser atribuída à Tirreno, criada no final de 2024 por uma pessoa que registrou outras firmas semelhantes. Segundo os investigadores, esse é um indício de que se tratava de uma "empresa de prateleira" para viabilizar a operação de socorro ao Master.
Tão logo foi lançada no mercado, a Tirreno ampliou o seu capital para R$ 30 milhões, passou a ter como diretor um ex-funcionário do Master e realizou mudanças societárias — que, de acordo com a PF, foram formalizadas somente após o início da operação financeira envolvendo o BRB.
O Ministério Público Federal destaca que o contrato inicial de parceria entre Master e Tirreno e um dos instrumentos de cessão de crédito “sequer estão autenticados em cartório”, enquanto os demais documentos da operação foram registrados formalmente apenas alguns meses depois da transação.
“Mostra-se atípico e desarrazoado que somente após a provocação do Banco Central sobre as informações, o BRB passou a exigir documentos adicionais, situação bastante suspeita para quem realizaria operação neste montante (R$ 12,2 bilhões) e que deveria se cercar de cuidados objetivos e mínimos para a viabilidade deste tipo de transação”, afirmam os investigadores.
Diante desses indícios, a Polícia Federal realizou uma operação para prender Daniel Vorcaro, que estava embarcando para uma viagem internacional, e outros executivos do Master. O então presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, foi afastado do cargo. As defesas dos envolvidos negam qualquer irregularidade.
Em nota, o BRB disse que “sempre atuou em conformidade com as normas de compliance e transparência, prestando regularmente informações ao Ministério Público Federal e ao Banco Central do Brasil sobre todas as operações relacionadas ao Banco Master”.
A defesa de Daniel Vorcaro classificou como “desnecessária e ilegal” a prisão decretada pela Justiça e disse ainda que o banqueiro viajaria para os Emirados Árabes Unidos, quando foi detido no aeroporto internacional de Guarulhos, para concluir a venda da instituição financeira para um grupo de investidores liderado pelo Grupo Fictor, anunciada ao mercado. Os advogados recorreram ao Superior Tribunal de Justiça.
O Globo
MASTER E BRB FIZERAM NEGÓCIO DE R$ 303 MILHÕES COM EMPRESA DE ATENDENTE DE LANCHONETE INVESTIGADA POR GOLPE
Reviewed by Erivan Justino
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terça-feira, novembro 25, 2025
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