DIRETOR DO IDEMA COBRA NOVA LEI E DIZ QUE RN ESTÁ ATRASADO PARA O FUTURO

FOTO: FIERN
O Rio Grande do Norte está licenciando projetos usando uma lei ambiental que não fala em energias renováveis, não prevê hidrogênio verde, ignora o uso de baterias para armazenamento de energia e sequer menciona data centers. A avaliação é do diretor-geral do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema), Werner Farkatt, que cobra com urgência a atualização da legislação estadual 272, em vigor desde 2004. “A nossa legislação não acompanha mais o mundo. Não tenho como licenciar projetos novos porque simplesmente não existe respaldo legal”, afirmou.
Segundo Farkatt, empreendimentos ligados à nova matriz energética esbarram em um vácuo normativo que impede a análise técnica dos pedidos. “Estamos vendo o surgimento de projetos com baterias em containers, que equilibram a geração de energia. Mas como autorizar algo que a lei não reconhece? Isso não é burocracia do Idema, é limitação legal”, explicou. O mesmo acontece com instalações de data centers, que também não estão contempladas nas regras atuais. Ele cita, aliás, que o Estado já produz energia suficiente, mas não consegue escoar por falta de estrutura nas linhas de transmissão — cenário que só agrava com o bloqueio a tecnologias de suporte como essas.
A crítica de Werner vem em um momento em que o Rio Grande do Norte tenta se posicionar como referência em energia limpa no Brasil. Nesta semana, a Assembleia Legislativa aprovou o novo marco do hidrogênio verde. Mas a lei 272 continua intocada. “Essa é uma legislação que parou no tempo. A origem dela é de 2004. E o regimento do Conselho Estadual de Meio Ambiente (Conema) ainda é de 2000. Não existe menção aos temas que hoje movem o mercado ambiental”, disse.
O diretor também comentou a tramitação de um projeto nacional sobre licenciamento ambiental que está parado no Congresso desde 2015 e disse que, mesmo se for aprovado, ele não resolve os impasses locais. A proposta defendida por Farkatt é uma revisão específica da legislação estadual, que leve em conta as demandas atuais do setor e permita ao Idema agir com segurança jurídica diante das inovações.O diretor, no entanto, fez questão de deixar claro que o IDema cumpre seu papel como executor das políticas ambientais. “O que está na lei, a gente cumpre. Mas o que não está, não podemos inventar. Eu não crio regra. Eu aplico”, disse. Para ele, a ideia de que o Idema trava projetos é equivocada: “Quando a documentação chega correta, a análise é feita rapidamente. Semana retrasada, entregamos uma licença em Mossoró com apenas 45 dias. Mas há casos que se arrastam por mais de um ano porque a documentação é incompleta, conflitante ou mal elaborada”.
Farkatt informou que o tempo médio de tramitação de licenças atualmente é de 120 dias e que há esforço interno para reduzir esse prazo. Mesmo assim, os gargalos permanecem. Um deles é a estrutura limitada: o Idema tem apenas 19 fiscais para 167 municípios e nunca realizou concurso público próprio. “Todos os servidores vieram cedidos de outros órgãos. Agora, depois de 40 anos, vamos ter o primeiro concurso específico, com previsão de 40 vagas”, informou. A seleção deve ocorrer ainda neste ano, com possibilidade de nomeação até o início de 2026, se não houver judicializações ou impedimentos administrativos. Ainda assim, ele reconhece que o número é insuficiente: “Precisaríamos pelo menos do dobro disso”.
Atualmente, o Idema conta com apenas uma sede descentralizada, em Mossoró, que passou recentemente por ampliação de equipe e capacidade técnica. Segundo o diretor, o ideal seria criar unidades regionais em todo o estado, como já ocorre em estados como Minas Gerais e Bahia. “Esse seria o melhor dos mundos, mas falta estrutura, orçamento e vontade política para consolidar isso”, admitiu.
A engenheira civil Carla Gracy, que atua como consultora ambiental, destaca a importância da qualidade técnica nos projetos apresentados ao Idema. “Quando o projeto é completo, não tem como dar errado. A avaliação técnica depende da boa entrega”, disse. Ela também falou sobre o projeto Pod Mais Ambiental, iniciativa educativa que coordena com Farkatt, e que celebra um ano de atividades com podcasts, revistas em quadrinhos e ações voltadas para escolas públicas e privadas.
Os dois também divulgaram a programação da Semana do Meio Ambiente, promovida pelo Idema com atividades em unidades como o Parque das Dunas e Pipa. O encerramento será com um passeio ciclístico no domingo, além de oficinas e palestras sobre microplásticos e resíduos sólidos. “Estamos tentando fazer o que é possível com o que temos. Mas o futuro do meio ambiente no RN passa por uma atualização séria da lei. Sem isso, o discurso sobre sustentabilidade vai continuar sendo só discurso”, concluiu Farkatt.
Neilton: “RN está em último lugar em sustentabilidade ambiental”
O Rio Grande do Norte ocupa a última colocação no ranking nacional de sustentabilidade ambiental, uma realidade que, segundo o deputado estadual Neilton Diógenes (PP), exige reação imediata do poder público. Para ele, o Estado está amarrado a uma legislação ultrapassada que não dialoga com os potenciais econômicos e ambientais da atualidade. “Temos uma lei ambiental de 2004 que não menciona energias renováveis, hidrogênio verde, mineração ou qualquer uma das áreas em que o RN tem capacidade de liderar. Estamos perdendo oportunidades”, afirmou.
Neilton lançou o movimento “Destrava RN”, com o objetivo de mobilizar a sociedade e pressionar o governo estadual a atualizar a Lei 272, que regula o licenciamento ambiental no estado. Segundo o deputado, a legislação atual não promove nem a proteção ambiental nem o desenvolvimento. “Ela virou um entrave. O mundo mudou e o Rio Grande do Norte continua preso a uma norma que ignora completamente os novos cenários energéticos e tecnológicos. Não dá mais para ficar no século passado”, disse.
A demora na concessão de licenças ambientais é, na avaliação de Neilton, um dos principais obstáculos para a interiorização da atividade industrial no estado. Ele afirma que muitas empresas deixam de investir no RN por causa do excesso de exigências e da morosidade nos processos. “Tem empresa que nem chega a entrar com o pedido de licença porque sabe que vai esperar demais. E as que entram, muitas vezes, desistem no caminho. Isso afasta investimentos e trava o crescimento de cidades fora da capital”, criticou.
O deputado alertou que a concentração de oportunidades na Região Metropolitana de Natal acentua as desigualdades regionais. Dados recentes revelam que 75% dos empregos formais gerados no estado estão em Natal e municípios vizinhos. Para Neilton, essa concentração é reflexo direto da ineficiência da política ambiental em permitir o desenvolvimento de novos empreendimentos em outras regiões. “Eu moro no interior e vejo o que acontece. Tem gente capacitada, formada, pronta para trabalhar, mas que precisa sair da sua cidade, da sua casa, para tentar a vida em Natal ou fora do estado porque não há vagas no interior. Isso é injusto e precisa mudar”, afirmou.
Neilton também aborda outra pauta sensível: a suspensão das promoções automáticas de militares a cada três anos, prática que havia sido implementada nos últimos anos e agora enfrenta questionamentos legais. Ex-integrante do Corpo de Bombeiros, com 13 anos de serviço, ele defendeu a manutenção do direito à promoção como forma de valorização da tropa. “A promoção é um estímulo. É parte do sonho de quem entra para a carreira militar, seja para ser cabo, sargento ou oficial. Isso não pode ser interrompido”, disse.
O parlamentar informou que já assinou a Proposta de Emenda à Constituição que trata da reestruturação da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros, e afirmou que vem trabalhando há meses com os comandos das corporações, o Gabinete Civil e a Secretaria de Segurança para construir uma saída definitiva para o impasse. “A governadora Fátima já promoveu mais de 18 mil militares nos últimos anos. Tenho convicção de que vamos encontrar uma solução que preserve os direitos adquiridos”, declarou.
Agora RN
DIRETOR DO IDEMA COBRA NOVA LEI E DIZ QUE RN ESTÁ ATRASADO PARA O FUTURO
Reviewed by Erivan Justino
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sexta-feira, junho 06, 2025
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