DISCURSO DE AÉRCIO NEVES NORTEIA OPOSIÇÃO

Brasília

O primeiro discurso político do senador Aécio Neves (PSDB-MG) da tribuna do Senado durou exatos 25 minutos, mas mobilizou o plenário por cerca de quatro horas. Aécio criticou o governo e disse que, “entre os interesses do País e a conveniência do partido, o PT escolheu o PT”. Mas o tom das críticas e o reconhecimento dos avanços da era Lula provocaram uma enxurrada de apartes elogiosos em tom inédito. Pela primeira vez, líderes do PT também reconheceram de público as virtudes do governo tucano de Fernando Henrique Cardoso.

Senador Aécio Neves fez um pronunciamento de 25 minutos, mas provocou discussões no plenário por cerca de quatro horas

Em meio à troca de elogios, quem ficou na berlinda foi o candidato derrotado a presidente, José Serra, que já estava em Brasília e compareceu ao Senado a convite do próprio Aécio, para ouvi-lo. Diante da firmeza do senador mineiro em defesa da herança tucana, das privatizações ao Proer (programa que saneou o sistema financeiro), foi Serra quem acabou cobrado pela defesa tardia do tucanato que escondera o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na campanha. “Não vi esta contundência em grandes debates com o eleitor.

Em 2002 e 2010 Serra não me pareceu muito convicto em defender o legado de FHC”, cobrou a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). Aflito com a citação sem direito à resposta, Serra chegou a acenar para o presidente José Sarney (PMDB-AP). Mas logo veio a segunda estocada, quando o líder da bancada petista, Humberto Costa (PE), elogiou o discurso e disse reconhecer em Aécio, “sem medo de errar, o melhor quadro da oposição”.

Aécio abriu o discurso que se propunha a dar rumo à oposição reforçando seu perfil de “homem do diálogo que não confunde agressividade com firmeza, nem adversário com inimigo”. Mas foi duro nas críticas ao “desarranjo fiscal que penalizará investimentos anunciados com pompa e circunstância e à farra da gastança descontrolada” especialmente em ano eleitoral, que faz “renascer a crônica e grave doença da inflação”. Em vez de focar nos 100 dias de governo Dilma Rousseff, preferiu tratar do conjunto da administração petista que inicia seu nono ano. Fez reparos à “subordinação das agências reguladoras ao governo central, ao grave aparelhamento e inchaço do Estado Brasileiro, e ao governismo que avança sobre empresas privadas”, como no caso da Vale. “Nada disso é interesse do País”, destacou.

O tucano cobrou iniciativa do governo em favor das grandes reformas, como a tributária, e propôs desonerar as empresas de saneamento e as contas de luz. Também falou em recompor as transferências federais para Estados e Municípios e sugeriu a criação do Simples Trabalhista, como forma mais eficiente de atender as demandas das micro e pequenas empresas, do que a criação do ministério para o setor.