POESIA POPULAR E A DURA REALIDADE DO SERTÃO SEM CHUVA
Este cavalo foi fotogrado no cariri paraibano, nas imediações da
fazenda Serrote Agudo, lugar imortalizado na composição de Zé Marcolino e na voz
de Luiz Gonzaga.
O que chamou atenção, além da magreza do animal, foi o desespero
cambaleante do cavalo para comer alguns talos de capim quase secos.
- TORMENTO DE UM CAVALO -
- Gilmar Leite
-
Quantas vezes
correstes livremente
Nas campinas
florida do sertão
Conduzindo o
vaqueiro com gibão
Num galope
feliz e velozmente.
Os teus cascos
trinavam reluzente
Na caatinga,
grotão e pradaria,
Pra depois
descansar na calmaria,
Sob a sombra
dum velho juazeiro
Escutando o
cantar doce e maneiro
Do concriz
dando adeus ao fim do dia.
Muitas vezes
vencestes as distâncias
Dando trotes
sutis, bem coordenados,
E pastastes
nos campos orvalhados
Vendo as águas
pulsando em ressonâncias,
Teus galopes
mostravam elegâncias
Conduzindo com
porte algum vaqueiro
Perpassando a
jurema e o marmeleiro
Sem temer da
caatinga algum perigo
Protegendo no
lombo o teu amigo
No trabalho
mostravas ser parceiro.
Pelos campos
tangestes mil boiadas
Sempre atento
à fuga do novilho
Escutando o
aboio como um trilho
E vencendo as
estradas alagadas.
Hoje a seca,
com garras afiadas,
Faz teu corpo
sofrer desnutrição
O fantasma da
fome com agressão
Diminui o
viver, rouba a esperança,
Qualquer passo
teu corpo logo cansa
Numa cena
repleta de aflição.
Sempre em vão
a procura do alimento
Muito mal tu
consegues caminhar
Pois parece
que o corpo vai tombar
Num viver tão
repleto de tormento.
O teu corpo
revela o sofrimento
Nas agruras da
fome causticante
A passada te
faz cambaleante
Demonstrando
decrépita magreza
Pois a morte
parece ser certeza
Sobre um corpo que já foi
elegante.
POESIA POPULAR E A DURA REALIDADE DO SERTÃO SEM CHUVA
Reviewed by Erivan Justino
on
terça-feira, março 26, 2013
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