FORRÓ ATUAL É CRITICADO POR ARIANO SUASSUNA


Por Diego Rocha
            Quando vou a um “forro universitário”, um costume raríssimo de minha pessoa (pois não tenho cérebro para isso; estômago, talvez, através de muita cachaça...), me deparo com músicas que denegrecem, que diminuem as pessoas, especialmente as mulheres.
            Eu confesso abestalhado que ainda não entendo a razão de jovens (de minha geração Internet, e muita coca-cola, zero), que se dizem alfabetizados (nada contra a triste realidade dos analfabetos no Brasil), “informatizados”, filhos do pai e da mãe (até onde se sabe), que estão estudando, se educando (pegam no livro, de vez em quando, para guarda: na bolsa ou na estante), ter de “louvar” paredões de som, pelo dialeto tribal:  tchu tcha tcha...
“Isso, é, uma, vergonha!” (Boris Casoy).
            E mais vergonhoso ainda é ver as “raparigas” (sinônimo de moças de família), dançando “o enfica”, para depois, enfincarem nelas: bons adjetivos...
            Acredito que a minha geração não está perdida (sabem do caminho de volta para a casa dos pais, pois são marsupiais). Acontece que, em realidade, as excessivas apelações sexuais por parte daqueles que se valem da mídia para lucrar milhões em dinheiro, estão, também, causando transtornos de personalidade (e psicossomática) nas pessoas de todas as idades. Pois é impossível tapar os ouvidos e cegar os olhos para com a televisão, o rádio e a internet quando querem “enfincar” um novo sucesso à venda.
            Resultado: muito dinheiro para alimentar os egos dos “artistas”, e muito priapismo para a medicina remediar. Sem falar das desgraças para o necrotério analisar, depois do final de semana.

            O álcool e outras drogas pesadas passam a ser meramente um aditivo no bestialismo em que as “festas mundanas” (Ó Jesus) se desenvolvem diante das mensagens “musicais”. Até o deus Baco, em seu bacanal lá da Roma Antiga, grita assustado com o canto lírico atual...
      Então, com as oportunas palavras do Mestre Ariano Suassuna, vamos dançar!

    “'Tem rapariga aí? Se tem, levante a mão!\'. A maioria, as moças, levanta a mão. Diante de uma plateia de milhares de pessoas, quase todas muito jovens, pelo menos um terço de adolescentes, o vocalista da banda que se diz de forró utiliza uma de suas palavras prediletas (dele só não, e todas bandas do gênero). As outras são \'gaia\', \'cabaré\', e bebida em geral, com ênfase na cachaça. Esta cena aconteceu no ano passado, numa das cidades de destaque do agreste (mas se repete em qualquer uma onde estas bandas se apresentam). Nos anos 70, e provavelmente ainda nos anos 80, o vocalista teria dificuldades em deixar a cidade.
Pra uma matéria que escrevi no São João passado baixei algumas músicas bem representativas destas bandas. Não vou nem citar letras, porque este jornal é visto por leitores virtuais de família. Mas me arrisco a dizer alguns títulos, vamos lá: Calcinha no chão (Caviar com Rapadura), Zé Priquito (Duquinha), Fiel à putaria (Felipão Forró Moral), Chefe do puteiro (Aviões do forró), Mulher roleira (Saia Rodada), Mulher roleira a resposta (Forró Real), Chico Rola (Bonde do Forró), Banho de língua (Solteirões do Forró), Vou dá-lhe de cano de ferro (Forró Chacal), Dinheiro na mão, calcinha no chão (Saia Rodada), Sou viciado em putaria (Ferro na Boneca), Abre as pernas e dê uma sentadinha (Gaviões do forró), Tapa na cara, puxão no cabelo (Swing do forró). Esta é uma pequeníssima lista do repertório das bandas.
Porém o culpado desta \'desculhambação\' não é culpa exatamente das bandas, ou dos empresários que as financiam, já que na grande parte delas, cantores, músicos e bailarinos são meros empregados do cara que investe no grupo. O buraco é mais embaixo. E aí faço um paralelo com o turbo folk, um subgênero musical que surgiu na antiga Iugoslávia, quando o país estava esfacelando- se. Dilacerado por guerras étnicas, em pleno governo do tresloucado Slobodan Milosevic surgiu o turbo folk, mistura de pop, com música regional sérvia e oriental. As estrelas da turbo folk vestiam-se como se vestem as vocalistas das bandas de \'forró\', parafraseando Luiz Gonzaga, as blusas terminavam muito cedo, as saias e shortes começavam muito tarde. Numa entrevista ao jornal inglês The Guardian, o diretor do Centro de Estudos alternativos de Belgrado. Milan Nikolic, afirmou, em 2003, que o regime Milosevic incentivou uma música que destruiu o bom-gosto e relevou o primitivismo est tico. Pior, o glamour, a facilidade estética, pegou em cheio uma juventude que perdeu a crença nos políticos, nos valores morais de uma sociedade dominada pela máfia, que, por sua vez, dominava o governo.
Aqui o que se autodenomina \'forró estilizado\' continua de vento em popa. Tomou o lugar do forró autêntico nos principais arraiais juninos do Nordeste. Sem falso moralismo, nem elitismo, um fenômeno lamentável, e merecedor de maior atenção. Quando um vocalista de uma banda de música popular, em plena praça pública, de uma grande cidade, com presença de autoridades competentes (e suas respectivas patroas) pergunta se tem \'rapariga na plateia\', alguma coisa está fora de ordem. Quando canta uma canção (canção?!!!) que tem como tema uma transa de uma moça com dois rapazes (ao mesmo tempo), e o refrão é \'É vou dá-lhe de cano de ferro/e toma cano de ferro!\', alguma coisa está muito doente. Sem esquecer que uma juventude cuja cabeça é feita por tal tipo de música é a que vai tomar as rédeas do poder daqui a alguns poucos anos.” (SUASSUNA, Ariano, disponível em:http://www.vooz.com.br/noticias/critica-de-ariano-suassuna-sobre-o-forro-atual-10842.html).
            Vamos, então, refletir mais sobre tais bandas e seus estilos quando formos celebrar uma festa, ainda mais se de Santa ou Santo católico. Pelo amor de Deus!
            Ou, estaremos dançando aquela dança deles, enquanto a sociedade avança para mais um “auto-extermínio Sodoma e Gomorra!”. Lá vem outra bomba nuclear dos céus... Boooom!

            Diego Rocha.
FORRÓ ATUAL É CRITICADO POR ARIANO SUASSUNA FORRÓ ATUAL É CRITICADO POR ARIANO SUASSUNA Reviewed by Erivan Justino on quarta-feira, maio 23, 2012 Rating: 5

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